terça-feira, maio 27, 2008

Le fabuleux destin d'Amélie Poulain

Amélia, simplesmente Amélia.. Amélia de amo, de amar, de amor.. aos outros. Pérola angular do cinema!

Sydney Pollack (1935-2008)

A morte de Sydney Pollack permite reviver o último filme de Kubrick. Ele foi actor. Recordo o adúltero que se socorre do médico (Tom Cruise) quando a prostituta com quem está sofre uma overdose. Ele é um dos Eye Wide Shut presentes na festa. Mas há mais. Sydney Pollack foi um grande realizador (pelo menos) uma vez. Out of Africa (filme que me diz bastante por razões pessoais e não só) é uma obra grande cunhada dentro e fora de Hollywood. Tal como Lista de Shindler ou ET, esta África gera o consenso de toda a comunidade cinéfila. Sobre este filme, escrevi em tempos remotos quando ainda dava os primeiros passos como impressionista da 7ª arte. Nada mais acrescentaria senão um profundo sentimento de gratidão pela exposição de imagens em cascata daquele Quénia em roda livre... rodeado de nenúfares e lagos imensos até à linha do horizonte que a vista alcança. Refiro-me ao portentoso travelling que a viagem de avioneta proporciona ao comum dos mortais cinéfilos.

Do leit motiv de out of Africa não me pronunciarei. Peço perdão, por vezes o cinema confunde-se com a (nossa) realidade de forma bastante peculiar...talvez Karen tenha razão naquilo que escreveu sobre a sua passagem por África. "Um grande arco que, do apogeu da felicidade num lugar paradisíaco, o homem mais apto a partilhar a sua vida, leva-a à perda de tudo e, apesar de tudo, a sentir-se mais forte".

Destarte, aqui fica o mea culpa para o caro(a) leitor(a) Karen Blixen.

Out of Africa

sexta-feira, maio 16, 2008


Os sonhos frustrados de I Vitelloni apresentam a juventude de Fausto, Alberto, Leopoldo e Moraldo (presença de Fellini no grupo) que impera sem demoras. Um grupo que procura, constantemente, um rumo para a sua vida. De facto, esta obra prima do cinema italiano foi menosprezada. Foi-o injustamente. Porque nasceu ali o género teen movie. Era o cinema das receitas e dos remédios para a vida. Nos dias que correm o teen movie encontra paralelo em filmes como American Pie. A minha geração gosta e a minoria regozija-se perante a escolha.
Acontece que aquele cinema de minorias mostrava jovens adultos marionetas nas mãos dos pais, adolescentes que entravam em convulsões múltiplas e que promoviam a rebelião através da participação num conjunto de tropelias. Jovens adultos dependentes da independência. Este é o cinema que nos mostra esses jovens de 30 anos que levam tabefes do pai. O jovem Moraldo apresenta esse cinema. O jovem Moraldo é o narrador, o qual aparece encostado no canto, a contemplar os companheiros e, em off, vai tecendo comentários sobre o que se passa - num registo de evidente nostalgia - assim sobre a vida dos demais. E todos ali nos revemos na adolescência autobiográfica de Federico Fellini.

sexta-feira, maio 09, 2008


E a bola vai sair na casa preta? sai vermelha? par ou ímpar? sai zero na casa verde. O jogo da roleta acaba por se tornar uma espécie de coração simbólico de tudo, a presença física da mentalidade geral que reina na cidade e população. A cidade é Roletemburgo (a expressão não é minha, é aliás de Dostoievsky em "O Jogador") e define o quid do frequentador assíduo do casino. Esta obra prima de 1863 trata do Homem epiléptico na sala. Cada nova aposta é um risco. E convido-vos a entrar na sala. Este texto do meu amigo João Severino serve de prefácio à leitura obrigatória de Dostoievsky.

«Mak Vong Cheung era um empresário conceituado em Cantão. A sua riqueza era infinita. O ramo da construção civil cantonense tinha progredido de tal forma que a capital do Sul da China tinha-se transformado numa metrópole de milionários. Esses homens quando reparavam que o balanço da sua conta bancária era algo de impressionante decidiam acto contínuo rumar ao "paraíso". Macau era o sonho, o gozo, as mulheres loiras, a mesa de jogo, a roleta, o vício secular. Mak chegou a Macau e rapidamente frequentou determinados locais para mostrar que era rico. Contudo, os seus milhões vinham guardados para o casino. Casinos que pululam por Macau e que ao retirar fortunas a milhares de pessoas servem simultaneamente na perfeição para financiar governos, benemerências, fundações e museus. Mak sentou-se ao jogo. Jogou dez mil, cem mil, um milhão, cinco milhões e perdeu tudo. Mak, imperturbável, deixou o casino e, rapidamente, em face de alguém de uma seita já estar a controlar os seus passos, abordou alguém desse alguém e pediu-lhe um empréstimo. Cinco milhões, para recuperar os outros cinco. Dinheiro emprestado, Mak sentado. De novo, no casino, a tal instituição que até financia fundações. Mak jogou, horas e horas, às seis da madrugada estava falido. Mak reagiu mal. Na casa de banho tentou o suicídio. Os agiotas salvaram-no, levaram-no, interrogaram-no. Há milhões em Cantão? Mak já não tinha nada. Tinha sido a décima nona vez que perdera mais de cinco milhões no casino, na tal instituição que financia fundações e museus. Os agiotas confirmaram a falência. A decisão foi normal: cortaram Mak aos bocados e os seus restos corporais foram levados para o almoço dos tubarões...».

terça-feira, maio 06, 2008

Canção sobre mudança. Poema carismático de António Gedeão. Voz de Manuel Freire transversal a gerações e etnias. Canção sobrevivente à mudança dos «tempos e vontades» a que aludiu Camões.


«A pedra filosofal (ou mercúrio dos filósofos) era o principal objectivo dos alquimistas. Segundo a lenda, era um objecto que poderia aproximar o Homem de Deus. Com ela o alquimista poderia transformar qualquer metal inferior em ouro ou obter o elixir que permitiria prolongar a vida indefinidamente.»

(texto entre aspas retirado do Wikipedia).

segunda-feira, maio 05, 2008


Jorge Arrimar, poeta angolano que residiu na província chinesa de Macau organizou e traduziu em parceria com Yao Jingming um exemplar da Antologia de Poetas de Macau. O livro é bilíngüe, e reúne poemas que foram escritos originalmente em chinês, e depois traduzidos para o português, ou vice-versa, havendo também composições escritas no patoá de Macau, forma dialetal já quase extinta (“Teraço di chám di ladrilho / lugar pa sugá rópa”, para citar o poema Casarám antigo, de José Inocêncio dos Santos Ferreira). Vale a pena lembrar que, segundo Cheng Wai Ming, «a literatura de Macau está aberta a todas as línguas» e também, citando o prefácio desse precioso volume, escrito por Ana Paula Laborinho, «em Macau constrói-se uma expressão em que a voz persegue a utopia do múltiplo: várias línguas, várias culturas, vários tempos em busca da unidade do poema».

MEI CHIT LAI

Era lichia
toda ela
Branca
translúcida
trémula
estranha
cheirava a rosas passadas

Solvi-a num trago
e arrependi-me

Faltou-me o sentido da eternidade
e perdi-a,
num só gesto,
naquele instante.

Xian, 1989


(Poema de Carlos Marreiros)

sexta-feira, maio 02, 2008

«Calling all angels» não é Cinema mas podia ser. Não é poesia. Porque não é arte. É um pacto com a amplitude das sensações boas e, se bem que lhe possamos chamar "estado de nirvana", é mais do que isso, trata-se da origem ancestral e instintiva do Homem: o belo, a harmonia...o equilíbrio!


«O cinema é a arte de fazer acontecer coisas bonitas a Mulheres bonitas» (François Truffaut).


De facto, um gajo vê o la mariée était en noir e nota que o filme tem uma lenta e dolorosa vingança de Jeanne Moreau determinada a matar, um por um, os cinco assassinos do seu noivo, morto na igreja quando ainda decorria o casamento, e, claro, resvala no remake do Quentin Tarantino «Kill Bill», inspirado nesta incursão do Truffaut pelo estilo Hitchcock.*


...também a Jeanne Moreau é mais bonita que a Uma Thruman, exemplo perfeito de conquista, independência e escolha livre.


*E pronto (isto sou eu a pensar enquanto escrevo), não etiquetar o denominado género noir ao Hitchcock é um excelente princípio para se perceber do assunto. Terei de dar razão a certos gajos que insistiam que o estilo noir não nasceu, não cresceu e não morreu em Hitchcock, exemplo de charneira: o cineasta Jean-Pierre Melville (Le Samourai, entre muitos outros filmes).


Os temas obsessivos do cineasta francês sempre foram os mesmos: mulheres, livros e cinema :)