terça-feira, junho 19, 2007

Educação


Eis um tema que todos duma maneira ou de outra conhecem, discutem, avaliam. Ou porque se tem presente a sua própria educação e os benefícios ou prejuízos que a mesma constantemente origina, ou porque se sentem responsáveis pela de terceiros, ou ainda porque se é confrontado amiúde com a importância que à mesma é conferida pela sociedade em geral e pelos media em particular. Sobre ela reflectem e discursam associações, organizações cívicas, partidos políticos, governos… mas qual o conceito, concepção ou definição para a distinguir ou caracterizar? A circunstância de existirem variadíssimos sinónimos como ensino, saber, instrução, aculturação, socialização e tantos outros, só demonstra a sua complexidade e a facilidade de confusão a que se presta. Por outro lado a importância que lhe é conferida por todos os poderes, políticos ou não, só serve para nos acautelarmos relativamente ao valor que a mesma detém e encerra em si mesma bem como ao uso que lhe pode ser conferido.
Para a generalidade dos cidadãos o acto de educar pressupõe duas ideias centrais nem sempre ligadas: transmitir conhecimentos e informações, escolares ou não, ou dar a conhecer e inculcar valores e normas de comportamento e conduta na relação com outros, designadamente adultos. No primeiro caso a perspectiva é a do ensino propriamente dito, responsável pela existência duma máquina organizativa na posse de entidades cujo poder e sobrevivência depende da forma como gerem essa mesma máquina. No segundo caso a perspectiva é pertença de cidadãos individualmente considerados, grupos sociais e familiares, dependente de formas de estar que lentamente se alteram com o local e o decurso do tempo e dos tempos em que se vive. Em ambas as perspectivas, o confronto de cidadãos, corporações, empresários, profissionais organizados em escolas, sindicatos, universidades, partidos políticos e ministérios, governos, organizações internacionais, professores, pedagogias, movimentos pedagógicos ou profissionais, estratégias educativas… Em último lugar o sujeito passivo do acto de ensino e educação, a criança, o jovem, o aluno, o aculturado.
A educação e o processo educativo asseguram a sobrevivência do ser humano enquanto ser social, habilitam-no ao conhecimento dos meios e instrumentos de interacção com os outros, contribuem para a sua compreensão do mundo e ambiente que o envolve. A educação, no fundo, constitui-se como a herança num testamento, em que o testador, ainda em vida e reservando o usufruto para si, pretensamente preocupado com o destino daqueles a quem deixa o respectivo património, procura fundamentalmente assegurar-se do respeito pela sua memória e convicções, pela continuação da sua maneira de encarar a vida, a sua obra, os outros e o mundo. Os conhecimentos adquiridos e a experiência vivida por cada geração são quase sempre passados de modo mais ou menos fiel, condicionando e sendo condicionado pela vivência dos vindouros, armadilhando o destino e caminho dos que se sucedem no tempo. É por isso que se torna impossível dissociar a educação de outras disciplinas, de outras ciências, da moral, da religião, do poder político.
Foi Émile Durkheim (1858-1917) um dos pais da sociologia moderna, quem referiu que a educação consiste numa socialização metódica da nova geração pelas gerações adultas tendo por objectivo a realização dum certo ideal de homem. Em boa verdade e visto de forma simplista, esta é uma das definições possíveis. Há todo um património de saberes que carece de ser apreendido, preservado e mantido pelas gerações que se sucedem no tempo. A passagem desses saberes resulta duma necessidade também instintiva, igual à que ocorre noutros seres vivos. É todo um processo de aprendizagem ditado por razões de natureza instintiva, todavia adulterado em muitos casos, pela incorporação de interesses puramente egoístas de classe, interesses que em cada momento variam com a realidade sócio-cultural de cada país e de cada época. Não existe neutralidade ou independência, a educação e o ensino tem sempre subjacente uma intencionalidade, uma busca de transformação do outro em função dos valores e dos interesses de quem detém o poder de determinar a informação a transmitir. Terá de existir também e sempre planos distintos entre quem ensina e quem aprende, uma desigualdade na relação entre quem passa o testemunho e quem o recebe. A educação processa-se e tem-se processado de diferentes modos, de acordo com a época, a organização do grupo em que o indivíduo se insere, os instrumentos existentes para o efeito. As rupturas no modo de execução ou de processamento da informação que se pretende transmitir ocorrem ao ritmo das técnicas que vão surgindo ou sendo inventadas. Longe vão os tempos em que o costume e a tradição eram transmitidas somente por via oral, os conhecimentos adquiridos exclusivamente pelo contacto pessoal entre indivíduos da mesma família, dos poderosos do clã ou da tribo, dos chefes religiosos que formatavam o modo de pensar, os valores a conduta e o comportamento perante os mais velhos, a atitude e subserviência perante o Deus ou os deuses. O aparecimento da escrita, dos livros e dos códigos constituiu um salto na forma de educar e de dar testemunho dos valores, comportamentos e património a preservar. A complexidade da organização da sociedade, a divisão dos saberes, o aparecimento das ciências, dividiu e fragilizou de alguma maneira o ser humano que não foi capaz ou não teve oportunidade de receber a informação necessária à compreensão do mundo envolvente em constante mudança.

A posse da informação e o conhecimento passou a ser sinónimo de poder. No moderno mundo ocidental saber ler faz parte da vida mas a familiaridade contemporânea com os livros e a leitura nada tem a ver com a Antiguidade. Na verdade a alfabetização de massas é um fenómeno moderno, com origem na Revolução Industrial, quando os estados se aperceberam das vantagens económicas a retirar da circunstância dos trabalhadores e da população em geral serem alfabetizados e possuírem uma educação básica. Na Antiguidade a posse do conhecimento da escrita apenas estava reservado a uma minoria que representava ou estava ao serviço de quem detinha o poder. Donde a facilidade da manutenção do poder e a lentidão de qualquer mudança de natureza social, a permanência dum inalterado “status quo” durante gerações. O poder de impor um arbítrio cultural era facilitado pela ignorância e hierarquização da sociedade, pela distância física e social entre governantes e governados, pela separação entre pessoas. Efectivamente quanto mais os valores, princípios e regras de pertença e exclusão, bens e conhecimentos, evidenciarem a diferença entre as pessoas, maior o fosso entre as classes sociais, entre quem detém a autoridade e quem a ela lhe está subordinado. A avaliação que sempre se faz relativamente a qualquer situação do domínio humano está subordinada a uma perspectiva individual que reflecte necessariamente a educação, instrução, informação, cultura e aculturação que se possui. Isso significa que qualquer juízo de valor que se faça relativamente a qualquer situação, dificilmente em momento algum é independente, neutro ou susceptível de conduzir a verdades eternas, à essência das coisas, sendo susceptível em momento futuro, mais ou menos próximo, de ser posto em causa ou substituído por outro juízo de valor diferente ou diametralmente oposto.

A herança a transmitir pela actual geração deve conter a informação de que a vida e o mundo em que cada um se move são para respeitar e ainda que o futuro que inevitavelmente se avizinha só faz sentido se cada um contribuir para que seja melhor do que o presente. Que se interiorize também que a liberdade, igualdade e fraternidade não correspondem a conceitos vagos e inócuos, antes constituindo as bases para uma humanidade mais solidária, justa e feliz. Que os jovens herdeiros das actuais gerações constituam a principal preocupação de quem tem a vocação para educar, que ao seu serviço sejam colocadas as mais justas e modernas técnicas de ensino/aprendizagem. Que os diversos poderes instalados não receiem poder ser ultrapassados pelas novas gerações, pelas dinâmicas que estas necessariamente e instintivamente vão introduzir. Que se honre a vida e que os códigos enformadores das relações inter pessoais se caracterizem pela humanidade, justiça e contributos para a felicidade de cada um e de todos.
Nota: Os três textos são da autoria de um jurista de reconhecido mérito, todos a apresentar publicamente.
O bloger de serviço agradece a disponibilização de tão nobre material.

sexta-feira, junho 08, 2007


"Uma Avó é uma mulher que não tem filhos, por isso gosta dos filhos dos outros.
As Avós nao têm nada para fazer, é só estarem ali.
Quando nos levam a passear, andam devagar e não pisam as flores bonitas nem as lagartas.
Nunca dizem "Despacha-te!". Normalmente são gordas, mas mesmo assim conseguem apertar-nos os sapatos.
Sabem sempre que a gente quer mais uma fatia de bolo ou uma fatia maior.
As Avós usam óculos e às vezes até conseguem tirar os dentes.
Quando nos contam historias, nunca saltam bocados e nunca se importam de contar a mesma história várias vezes.
As Avós são as únicas pessoas grandes que têm sempre tempo.
Não são tão fracas como dizem, apesar de morrerem mais vezes do que nós.
Toda a gente deve fazer o possível por ter uma Avó, sobretudo se não tiver Televisão".
(autoria de uma menina de 8 anos)

segunda-feira, junho 04, 2007


Uma homenagem à palavra da literatura primaveril - goste ou não se goste - e das demais ramificações do género. Lembra Charles Bukowsky e outros. Muita imaginação. Muito belo. O mais bem conseguido de todos. Sem embargo da sensação de vazio tal o tom melancólico. Mas prima pela originalidade. Porque é diferente de tudo. Eles todos, personagens, estão uns com os outros como se todos se pertencessem, mas ninguém é de ninguém - nem mesmo a tríade sexual - porque há um elemento nevrálgico, e esse é o da (des) confiança.
Um carrocel de emoções do princípio ao fim...mas sempre com o intuito de estimular o intlectual de cada um de nós.
O amor e o conceito; vísceral, encantador e inesquecível.