quinta-feira, novembro 30, 2006

Neste lugar escondido
nao me restam senão vultos antigos
caminhando por lagos adormecidos
onde encontro a tua sombra,ardida!

Chama-me, e eu respondo
toca-me, e eu oiço "nikita"
possui-me,com estrondo
ó maré de corrente infinita:

Água suave que "lixa" a rocha.

sexta-feira, novembro 10, 2006

The Departed


O testemunho da vida quotidiana americana está em «Entre Inimigos» onde o extraordinário Billy (Leonardo di Caprio) é um agente da policia que se intromete na obscura máfia enfrentando uma vida dupla. Toda a situação coloca-nos perante um jogo de nervos mental, uma esquizofrenia que nem o Valium consegue sustentar. Costello (sensacional Jack Nicholson) é o senhor feudal a quem os "nobres" proprietários devem uma tax, já Sullivan (agradável Matt Damon) é a "ratazana" - o verdadeiro vilão - infiltrado no grupo dos bons da fita (a policia de Massachussets)- é neste triângulo trivial de personagens que se desenrolam os longos 149 minutos de acção com direito a orquestra Rock - os Rolling Stones com "Gimne Shelter" ou a balada "confortably numb" dos Pink Floyd na versão dada por Van Morisson (e que momento de cinema!). Destarte, traz à colacção a musa inspiradora dos nossos infiltrados - Madolyn (uma surpreendente Vera Farmiga até agora desconhecida do grande público). Este é um fantástico remake de "Mou gaan dou" - realizado por Wai keung Lau desconhecido criador da pérola oriental que constitui o script. Depois de "Gangs of New York" e "The Aviator", desta vez Scorsese não se esforçou para obter a estatueta, foi mais incisivo - tentou fazer cinema e isso provavelmente custar-lhe-à o Óscar.Porquê? porque o filme não traz alivio, bastará atentar na crua morte de Billy, tal género não convencerá Hollywood. Na analogia com Goodfellas: mais acção, um gangsters movie não tão rebuscado do ponto-de-vista do conceito de máfia, mas melhor montagem nos diálogos, menos comercial, mais cinema... O fascínio da carreira de Scorsese, tal como dos seus filmes, é o de uma parábola do próprio cinema depois da Época de Ouro. Scorsese surgiu demasiado tarde para pertencer aos grandes movimentos europeus do neo-realismo italiano ou à nouvelle vague francesa, e muito menos ao sistema de estúdios americano, o qual tinha criado os seus próprios heróis. Mas teve sorte em ter feito parte da primeira geração americana de estudantes de cinema, que foram tão inspirados pelo que estudaram como pelo que estava a acontecer à sua volta. O Problema é que ao contrário dos contemporâneos europeus - e heróis como Bertolucci, para Scorsese há a eterna miragem de Hollywood... e isso nota-se, em cada um dos seus filmes. Seja como for, este é um filme para ver e rever ao contrário dos dois filmes anteriores com que Marty nos brindou.
O Riff electrizante dos créditos finais ao som de "Departed Tango"(Howard Shore) com a ratazana no topo da varanda, o símbolo do vazio deixado pelo desencontro social entre os personagens defuntos, mereceria um Óscar (isto, se o "cinema de autor" fosse considerado cinema).
P.s. Ficará por explicar aos mais expeditos a presença de Madolyn no funeral de Billy, sobretudo após um segmento de filme em que não há já qualquer relacionamento com Sullivam e nem sequer se vislumbra que ela tenha aberto o envelope que recebeu de Billy.