quinta-feira, dezembro 16, 2004

Um buraco perfurado numa rocha marciana. Como seria o som? Nós temos lá olhos, mas não temos ouvidos, e Marte tem uma atmosfera ténue, mas existente. Logo, deve ouvir-se alguma coisa. Haverá eco? Haverá outros sons que ninguém previu? Rugidos do interior, silvos do vento, rochas a caírem. Sons de alegria ou tristeza? De medo ou de curiosidade? E a broca? Que enorme estranheza deve ter sido...
...Nós não pensamos o tempo em que não havia tempo por não haver homens que o instaurassem, pela ideia oculta e impensável de não haver um Universo que se não orientasse para a existência humana. E todavia sabemos que o acaso governou essa orientação. Nós não conseguimos pensar esse Universo para antes de haver homens e ser impensável que se pensasse a questão do seu sentido. Mas não abdicamos por isso de lho querer encontrar, agora que o homem existe para a tudo questionar. Assim é dificilmente pensável o Mundo para lá da espécie que é a nossa e se alinha entre as múltiplas espécies que se vão extinguindo. Mas é só pensando como disse, o vazio do Universo sem ninguém que o consciencialize, que o problema do sentido se pode pôr. Não há sentido nenhum, há só a obtusidade de tudo estar aí. É preciso repeti-lo,Mas como é amirável pensar que num instante fugitivo dos biliões e biliões de anos estelares, uma espécie apareceu e gritou à solidão dos espaços a sua vinda no que lhe foi dado criar, para imediatamente o Universo inteiro recair na estupidez do seu silêncio eterno. Perante quem ou quê isto tem significado? Porque o não tem perante nada. Foi um grito de louco no seu infinitesimal instante de loucura. Espécies que findam, estrelas que se apagam, vazio inerte pela exterioridade do sem-fim. Mas houve um momento em que tudo isso existiu só por haver a mente humana que a fez existir.