quinta-feira, fevereiro 19, 2015



Todos falam das 50 sombras de grey que estreou nas salas.
O mais eufemista dos eufemistas diria que é um filme muito mau.
Mas...felizmente aconteceu ver também Nymphomaniac nesse dia.
Ao contrário das 50 sombras de grey - filme adaptado de um livro - Nymphomaniac foi escrito para ser filmado.
Apetece lembrar que quando não há coisas simpáticas para dizer no que se propõe abordar, cumpre à arte filtrar a obscuridade do tema escolhido, de modo límpido, descrevendo o grotesco da natureza humana com o brilhantismo da verdade inteligente que transporta para a verdade conveniente.
É preciso haver cultura de aceitação do sexo nas artes, designadamente, quando há capacidade de questionar o tema com sucessivos traços de encadeamento do assunto em termos filosóficos.
Um filme pode ser pornográfico em dois sentidos, no mau sentido, se a narrativa for apenas vocacionada para o momento de retratar o coito (cinema pornográfico convencional) e no bom sentido, se a narrativa for o prato principal servida pelo complemento do sexo explicito igual ao sexo que fazemos em nossa casa.
Não creio que haja dúvidas sobre o enquadramento do filme de Lars Von Trier neste último sentido, isto é, o de uma história com contornos morais que é catalogada pela imagem do nu despudorado igual ao que temos na nossa vida real.
Se a ficção implica que os actores tenham relações sexuais que os espectadores têm na sua vida real então é hipócrita criticar este estado de cinema.
Pode-se até etiquetar o filme de Lars Von Trier como uma “pornografia mascarada de arte” desde que se avalie a arte do ponto de vista filosófico e identifique a escolha da ópera de Marinelli, de Bach, do livro de Izaac Walton e o paralelismo das parcerias sexuais de Joe com as técnicas de pesca no rio.
Entretanto, desviando-nos do essencial para o assessório, cumpre destacar a ordem do dia sobre o comentário às 50 sombras de grey e a respectiva associação ao género "pornográfico". Pela nossa parte, não merece sequer ser considerado um filme pornográfico no mau sentido, dado que, não tem uma narrativa minimamente coerente que pretenda alcançar um objectivo.
Falta-lhe o essencial, isto é, o profissionalismo na representação – teatral - e diálogos que encaminhem o espectador para uma questão existencial ou até banda sonora para ser considerado filme…de alguma coisa.
As sombras de grey são um tédio que não evita a sensação de tempo perdido devido a uma tentativa mal conseguida de tratamento audiovisual de um livro mau.