segunda-feira, outubro 29, 2007

«Meet me in Montauk»


O culto à inteligência. Reflexão em bruto sobre a magnitude do amor. Um argumento soberbo. Jim Carey no seu melhor (dramático). E há sempre uma frase depois do amor. Sempre a mesma. Aquela que palpita nos corações destroçados e que teima em não desaparecer. A frase é "Meet me in Montauk", pois claro. E toda a encenação do ex-amor. A tentativa desesperada de eliminar o romance "trágico" do cérebro, tão difícil e, ao mesmo tempo, tão doloroso. Os caminhos percorridos nesse labirinto que constitui a dor. A saudade. O trágico. As fronteiras entre o consciente e o inconsciente. A tradução do título para português- «despertar da mente» - é apenas o mote para o que resta do filme: lucidez profunda no percurso percorrido entre o consciente e o inconsciente. Estamos perante aquele que considero o filme de eleição para revisionamentos múltiplos. Porque há sempre uma nova explicação para o "paraíso perdido". Com efeito, há repetidas carapaças que ocultam o génio da história. Se, ainda por cima, pensarmos que esta obra prima ressuscitou Kate winslet e Elijah Wood ficamos ainda mais contentes.
Destarte, deixa-nos antever determinado destino como pano de fundo para o encontro entre Joel e Clementine. Mas, no caso, como em tantos outros, pode não ser um encontro pacífico. E não vale a pena argumentar com o amor. No fundo, meus amigos, apetece recitar o título da musica padrão: "everybody gotta learn sometime", do Beck. E, devidamente ressalvada a tautologia: "Eternal Sunshine of the Spootless Mind" é mesmo eterno!

sábado, outubro 27, 2007

Quando a música tinha aquele sabor a intemporalidade..

quinta-feira, outubro 25, 2007


Por vezes olhamos para as coisas com aquele desdém próprio da idade, um sentimento de certeza ausente muito pouco caracteristico no adulto. Mas temos a breve sensação de já ter visto. Temos sempre. É o que apetece dizer deste inestimável momento. Olha, olha..olha. E vê aquela mensagem teatral, Brechtiana ou outra qualquer. Mas ela está lá palpável e circundante.
E muitas vezes acordamos e pensamos: «chegou a sensação do paraíso perdido». E então reagimos com brutalidade, acaso ditado pelo peso da revolta. Uma nuvem passageira, pois claro. A verdade chega com o sangue. Mas ainda não é o momento. Grace sente, Grace pensa, Grace ajeita-se, cede, mas Grace não resiste ao paraíso perdido. E encontra-se com John Milton. Não há uma imagem clara daquele pensamento.
Na verdade, apenas o grito das balas acordou os gemidos de Dogville. E não vale a pena disfarçar isto. Será orgulho, vingança..? nunca o saberemos. Sabemos sim que a sede de sangue apareceu sem avisar. Grace não o previu.

terça-feira, outubro 09, 2007

Across the Universe


"Words are flying out like
endless rain into a paper cup
Jai guru deva om
Nothing's gonna change my world
Nothing's gonna change my world
Nothing's gonna change my world
Nothing's gonna change my world
Jai guru deva om"

terça-feira, outubro 02, 2007

Há quem acredite no belo. O cinema que era o centro do mundo, aquele onde passavam muitas coisas na tela e estórias vertiginosas e pessoas que mudavam muitas vezes de vida e de cabelo e falavam diferente e com outros nomes. O cinema oferecia fantasia e evasão aos habitantes da pequena vila, fazendo esquecer a dura realidade da fome e da pobreza. O maravilhoso tributo ao cinema que marcou uma geração. Não vale a pena negar esta vertente.
Este é o ano que marcou a geração musical. Ennio Morricone foi a escolha acertada, trouxe a necessária magia aos momentos de amor com Elena.
Neste contexto, surge esta notável obra prima com o intuito de retratar o amor nas suas diversas frentes: o amor de mãe versus mulher, amor de adolescente, o amor sob forma de amizade, e o amor pelo cinema. É também devido a esses “duros” amores que se fazem escolhas, sacrifícios, sofrem-se consequências e muitas vezes obrigam-nos a fugir dessas realidades para criarmos em nosso torno uma redoma de vidro aparentemente intocável.
E esta não é só uma abordagem ao problema de amor, é também um acto de coragem. Atente-se na noite em que Salvatore recebeu a triste noticia, percebeu que não podia fugir do passado, pois querendo ou não, ele existia, e por isso mesmo tinha que o enfrentar.
O cinema tem o condão de nos transportar para estas realidades, e quando assim é, torna-se intemporal. E adorar «Cinema Paraíso» é adorar a intemporalidade. Nem vale a pena tentar reconstruir o argumento, o belo não tem explicação, mas tem outra coisa: a capacidade de nos apaixonar cada vez que nos aproximamos. E essa é a experiência de «Cinema Paraíso». Ver, rever, e admirar cada vez mais. E digo "admirar" porque é este o nexo de causalidade para a paixão. Cinema e paixão, juntos, de mãos dadas.


«Shichinin no Samourai est un des monuments du cinéma mondial, et le film de Akiro Kurosawa qui a le plus influencé les occidentaux et les cinéastes américains.»
Com esta pequena frase de François Truffaut entendemos a verdadeira dimensão deste marco do cinema, uma rapsódia à humanidade, mas sobretudo, à coragem. Não vale a pena tentar discernir a lógica subjacente à rodagem de 7 (sete) guerreiros em polvorosa, excepto se nos localizarmos na história do Japão: Séc. XVI, a estória da resistência de uma aldeia. O filme aborda o confronto entre o bem e o mal, ou seja, da pobre sociedade agrícola contra os salteadores da pilhagem.
Este épico do cinema conta a mais impressionante fábula do arroz, a importância da colheita, alguém que morre por ela, aquela onde um samurai se estatela no chão e, antes de morrer, branda: "Numa vida, nada é mais sublime que os últimos instantes. Vê bem".