segunda-feira, abril 27, 2009

África Minha

A escrita propaga por campos e aldeias, sobrevoando - em avioneta - os nenúfares que cobrem lagos enlameados. Há terra e musgo. Lá, onde o amor circundou uma fogueira e esta selou o divórcio. Karen Blixen explica o porquê. Entretanto, segue a união entre o animal e o Homem, qual tratado zoófilo. Do leão ao elefante, passando pela ave rara. O personagem é o "amor". Entre aspas porque não seria amor sem o fim, tal como o fim nada seria sem o amor. Sidney Pollack aceita o fim e Karen Blixen? (deduzimos que sim, através da plenitude das suas palavras): «Tive uma fazenda em África, no sopé das montanhas Ngongo.O equador passa a sessenta quilómetros a norte desta região e a fazenda ficava a uma altitude de mais de dois mil metros. Durante o dia sentíamo-nos mais perto do sol, mas as madrugadas e os fins de tarde eram límpidos e tranquilos e as noites frias.A situação geográfica e a altitude combinavam-se para criar uma paisagem inigualável. A terra não era farta nem luxuriante; era África destilada por dois mil metros de altitude, a essência forte e depurada de um continente». Será manifestação de espírito democrático? o ora escriba entende que sim. Em tempo de lembrar a revolução de Abril, convem salutar os que aceitam o resultado final. Não se trata de haver vencedores ou vencidos, mas do FIM. Adorámos Out of Africa mas aceitemos o seu final.

P.s. Afinal de contas, o continente é tórrido e longínquo, deixemo-lo ali, belo, diferente, distante.. África no seu caminho!

quarta-feira, abril 01, 2009

«Vanilla Sky»… porque sim!



Na minha primeira (e quiçá única) colaboração no Dogville, o desafio não poderia ter sido mais… desafiante! «Escreve sobre o teu filme preferido», propôs o Tiago, «tenho curiosidade para saber a tua opinião pessoal sobre ele». E é isso mesmo, muito pessoal… mas o cinema é admirável por despertar paixões únicas, aflorar sentimentos muito próprios, já que emolduramos a história do grande ecrã, universal, com a nossa própria vivência.

«Vanilla Sky», como muitos dos remakes da indústria cinematográfica, não reuniu o consenso da crítica, nem da especializada, nem da popular, que teimou em comparar o filme de Cameron Crowe com o original, «Abre Los Ojos», do espanhol Alejandro Amenabar. Acusado por muitos de servir o prato feito ao espectador, num thriller que se queria enigmático, o realizador de «Jerry Maguire» acaba por centrar a história no amor e não tanto na mensagem moral inicial.

Num dos seus papéis mais aliciantes e no qual brilhou, Tom Cruise é David Aames, um editor de sucesso que pode ter tudo o que quer, cobiçado pelas mulheres, mas que encontra em Sofia (Penélope Cruz, o elo de ligação entre o filme original e o remake) uma relação tranquila, estável, um amor verdadeiro. Esquece-se de Julie (Cameron Diaz), que, apesar de, para ele, ser só mais um caso, interpreta a relação de outra forma.

A vida muda radicalmente para David, quando, depois de passar uma noite com Sofia, com quem apenas conversa, numa simbiose de interesses e de olhares, decide aceitar entrar no carro de Julie… O filme continua, é certo, mas o segredo reside nesse momento, a altura em que, apesar de todas as certezas, o ego cede e espera-se que o risco não traga consequências.

O que queremos realmente para ser felizes? O filme de Crowe questiona a realidade do amor, da vida, do ódio, da amizade e do sexo, pintando-a, como no quadro de Monet, com pormenores geniais, como a canção dos Beach Boys, uma capa antiga de um álbum de Bob Dylan, e arte transformada em amor, quando o amor é visto pelos olhos da arte. O pesadelo começou para David quando minimizou momentos, aparentemente insignificantes.

Um momento… é o que basta… porque todos os momentos contam… Mas, para isso, temos de «abrir os olhos» para a vida.