quinta-feira, dezembro 06, 2007

La maman et la putain


Ouvi Alexandre falar doce ontem. A sala Luis de Pina siderou. La maman et la putain transformou espectadores em poetas.
As imagens protelavam na tela, deliciando com tranquilidade o espiral de nenúfares em pleno Paris, o que é de salutar tendo em conta a magnitude socio-política que aqui subjaz: a revolução cultural.

Salvo a devida vénia a quem sabe disto, não se vislumbra nenhuma relação Homem-Mulher. A reflexão a fazer é muito mais individual e girará em torno do universo unipessoal de Alexandre. O ego deste fora ferido pelo desgosto de amor (Gilberte) tornando-o frio, mesquinho e vingativo. Portanto, o que verdadeiramente importa dissecar é o desmantelar progressivo de um estado traumático durante breves 220 minutos.
Este retrato de Jean Eustache em 1973 - detem laivos de familiaridade - chamou à colacção o vazio das relações no pós maio de 68, o qual mantem toda a actualidade.
Tudo no filme se desenvolve a partir do preconceito social de que mais vale a cumplicidade frágil do que nada. Destarte, o sexo surge como manifestação balofa do escape para as vicissitudes da vida. Atente-se o momento em que Alexandre coloca a mão no peito de Veronika e esta lhe responde "pára com esse gesto vago de tentar que tudo esteja bem".
Neste contexto, o cerco aperta e a trama adensa-se, de tal forma que Alexandre perde o sorriso, passará a apresentar cara de poucos amigos tal a redoma de conflitos que provocara. No fundo, a dimensão negativa em que ele se vê compenetrado é um justo prémio: a chatice.
De súbito, dá-se um rude golpe. Veronika farta-se do menage a trois... a putain vira maman. E este monólogo de Veronika coloca o ponto final nas investidas de Marie (e Alexandre) acabando com a visão redutora do prazer.
Tudo começa mal mas acaba bem. Filmes como este personificam o cinema!