segunda-feira, janeiro 28, 2008


Quem passou pela vida em branca nuvem
E em plácido repouso adormeceu;
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu,
Foi espectro de homem - não foi homem,
Só passou pela vida - não viveu.
(Francisco Octaviano, («Ilusões da Vida»)
* Inevitável chamar à colacção esta obra máxima do dueto Ang Lee e Ledger...um final infeliz para este jovem tal como em "Brokeback Mountain". E porque a virilidade não se mede por complexos machistas (bem pelo contrário), aqui fica o registo de um filme terno e belo.

terça-feira, janeiro 22, 2008

Em Hollywood também há poesia...



Eís quando um filme que nos é caro (por motivos pessoais ou outros) goza de um relato tão analítico e sagaz.
O Joaquim Lucas escreveu assim:

A POESIA DE SPIELBERG COM INSPIRAÇÃO KUBRICKIANA:

Steven Spielberg não é um visionário. Kubrick é, provavelmente, na história contemporânea, o maior filósofo imagético.

Digamos que de uma associação intelectual entre estes dois homens só poderia sair algo poderoso, algo de singular em termos de um cinema sustentado na união de poderes mente/alma, rigoroso e moderno. Se de um lado havia a percepção comportamental do seu semelhante, a mais valia de um extremada sensibilidade racional (Kubrick), do outro havia a invulgar capacidade de chegar a esse mesmo semelhante, do talento para o seduzir através de uma maior sensibilidade emotiva (Spielberg).

Uma palavra para a personagem de “Gigolo Joe”. E não tanto para a irrepreensível (para não dizer brilhante) interpretação de Jude Law, mas muito mais para a forma como a personagem foi enriquecida. Sendo em última análise uma máquina, desprovido de capacidades individuais para a tarefa de sedução feminina, o prostituto é servido com todos os ingredientes associados ao género, ou seja, é alguém que tem tudo o que se espera de uma pessoa assim já que foi programado para responder àquele tipo de solicitações. Socorro-me até de alguém do sexo feminino a meu lado na sala de cinema que sussurrava para a sua companheira a propósito de “Gigolo Joe” : “ O gajo até tem o cabelo à foda-se!” E se eu entendi bem o que significará a peculiar expressão, ela diz tudo sobre a forma fantástica como foi imaginada a figura.

Já Haley Joel Osment, o menino de verdade que protagoniza o robot em busca do amor materno, ficará muito justamente para a história do cinema como a alma deste lindíssimo filme. O seu olhar infeliz, o seu rosto marcado pela angústia, o seu sorriso de felicidade e o dominante brilho presente nos seus olhos perante a consumação do sonho, são um marco fundamental que eleva o filme e aprofundam a nossa certeza sobre as fantásticas capacidades dramáticas do pequeno actor.

Em suma, um filme de brilhante racionalidade e estimulante emotividade, um filme excelente que é também um filme lindíssimo. «Inteligência Artificial», assemelha-se a um filme - poema que não esqueceu a acutilante racionalidade visionária de quem o idealizou: Kubrick.

Uma obra-prima? O futuro se encarregará de o confirmar. Ou não.

domingo, janeiro 13, 2008

In the mood for love


«Ele recorda esses anos perdidos. Como se olhasse através de uma janela empoeirada. O passado era algo que ele podia ver, mas não tocar. E tudo o que ele vê está turvo e indistinto...»
Este é um poema feito de silêncios. Quantos de nós nos deparamos com o efeito da inércia, uma força motriz da humanidade que conduz a resultados tão problemáticos? Eis uma forma de "olhar" este belo filme filmado em Hong Kong com a chancela de Wong Kar Wai. Uma obra intemportal, intensamente erótica, carregada de uma sensualidade presa apenas no sentimento, nas vontades refreadas, onde jamais esse erotismo nos é sugerido por qualquer manifestação física exposta. A frugalidade de um amor que se recusa ceder a uma cultura chinesa baseada na parcimónia das relações.
*Percebe-se como este filme influenciou Sofia Coppola na concepção de Lost in Translation.

quinta-feira, janeiro 10, 2008

Vivre sa vie


A sensação que me assaltou durante o visionamento desta obra prima "quase" me transformou um fã do Ser Mulher de Anna Karina. "Quase" porque o rosto angélico esconde fragilidades pessoais e humanas que encontraremos lá mais para a frente.
A transformação de Nana em prostituta (há quem lhes chame "Flores de Xangai", Godard também lhe dá um apelido eufemístico) se bem que forçada pelo contexto social encontra eco na ambição desmedida e insegurança de Nana. Ora, tal revela-se-nos profundamente perturbador.
Alguns de nós encontramos quiça familiaridades na personalidade e traços físicos desta Mulher em outras cidadãs do Mundo.
Este retrato dictómico que é simultaneamente agridoce e/ amargo do periodo da Nouvelle Vague (1962) é aconselhável para uma reflexão do Ser de Nana, tanto faz se chorando compulsivamente sob a égide da Champs-Élysées ou se dialogando sobre o silêncio.
A filosofia encerra o filme com chave de ouro.

quarta-feira, janeiro 09, 2008

Girl You'll Be Woman...Soon

Uma das famosas frames contemporâneas: Uma Thurman dança metodicamente o ritmo sensual da Mulher comprometida mas atrevida. Travolta o Homem instintivo mas passivo controla-se em nome da amizade.
Pulp Fiction no seu melhor.


*Sexualismos à parte: este cinema mantem-se actual.

segunda-feira, janeiro 07, 2008

«Rashomon» (trad."às portas do inferno")


Filmes como aquele que baptizou este blog representam o espírito de justiça no cinema. "Rashomon" do realizador Kurosawa consagra o homem justo associando-o ao egoísmo. A justiça é um bem comum à sociedade. Mas a sociedade somos cada um de nós. Sejamos Tajomaru, sejamos marido, sejamos Mulher, sejamos o lenhador.. o sentimento é egoísta e depende da perspectiva individual perante o acontecimento. A humanidade de kurosawa reflecte-se assim em vários protagonistas.
Tal como em "Ikiru", "Shichinin no Samurai" ou "Hakuchi", esta é uma lenda com princípios bem assentes. Longe do enredo dos samurais kurosawianos, a narrativa torneia diferentes aspectos da estória. Vale a pena visitar este cinema. O tema é tão revolucionário quanto o método com que é abordado; a partir de técnicas inovadoras no captamento da imagem: por exemplo, no que se refere ao ambiente labiríntico da floresta, o espectador é envolvido na complexa teia de situações tortuosas em que ocorre o crime. Um filme magistral!

sexta-feira, janeiro 04, 2008

Robert Rauschenberg

Nascido a 22 de Outubro

outer space buried deep in earth cave
white whale never lost in south sea sky ocean
pearl in oyster shell why I have rock in heart
why you hide in inner space

if three nightingales caught in fish net sing not hear
how long theree years what forever
all seasons all years all nature
when where
only one thing

– why you say love?