terça-feira, janeiro 22, 2008

Em Hollywood também há poesia...



Eís quando um filme que nos é caro (por motivos pessoais ou outros) goza de um relato tão analítico e sagaz.
O Joaquim Lucas escreveu assim:

A POESIA DE SPIELBERG COM INSPIRAÇÃO KUBRICKIANA:

Steven Spielberg não é um visionário. Kubrick é, provavelmente, na história contemporânea, o maior filósofo imagético.

Digamos que de uma associação intelectual entre estes dois homens só poderia sair algo poderoso, algo de singular em termos de um cinema sustentado na união de poderes mente/alma, rigoroso e moderno. Se de um lado havia a percepção comportamental do seu semelhante, a mais valia de um extremada sensibilidade racional (Kubrick), do outro havia a invulgar capacidade de chegar a esse mesmo semelhante, do talento para o seduzir através de uma maior sensibilidade emotiva (Spielberg).

Uma palavra para a personagem de “Gigolo Joe”. E não tanto para a irrepreensível (para não dizer brilhante) interpretação de Jude Law, mas muito mais para a forma como a personagem foi enriquecida. Sendo em última análise uma máquina, desprovido de capacidades individuais para a tarefa de sedução feminina, o prostituto é servido com todos os ingredientes associados ao género, ou seja, é alguém que tem tudo o que se espera de uma pessoa assim já que foi programado para responder àquele tipo de solicitações. Socorro-me até de alguém do sexo feminino a meu lado na sala de cinema que sussurrava para a sua companheira a propósito de “Gigolo Joe” : “ O gajo até tem o cabelo à foda-se!” E se eu entendi bem o que significará a peculiar expressão, ela diz tudo sobre a forma fantástica como foi imaginada a figura.

Já Haley Joel Osment, o menino de verdade que protagoniza o robot em busca do amor materno, ficará muito justamente para a história do cinema como a alma deste lindíssimo filme. O seu olhar infeliz, o seu rosto marcado pela angústia, o seu sorriso de felicidade e o dominante brilho presente nos seus olhos perante a consumação do sonho, são um marco fundamental que eleva o filme e aprofundam a nossa certeza sobre as fantásticas capacidades dramáticas do pequeno actor.

Em suma, um filme de brilhante racionalidade e estimulante emotividade, um filme excelente que é também um filme lindíssimo. «Inteligência Artificial», assemelha-se a um filme - poema que não esqueceu a acutilante racionalidade visionária de quem o idealizou: Kubrick.

Uma obra-prima? O futuro se encarregará de o confirmar. Ou não.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

É um excelente filme sem dúvida. Cumprimentos aos autores do blogue. Obrigado.

12:29 da manhã  
Blogger Tiago Barra said...

Agradeço as palavras simpáticas e retribuo com um reiterado elogio ao excelente texto que caracterizou a mais bela obra prima do cinema contemporâneo..

3:26 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home