Poetas de todo o mundo… Sede miseráveis.
Quando Frank, em Little Miss Sunshine, convence o sobrinho, Dwayne, que é um erro querer perder os preciosos anos de sofrimento que adolescência lhe pode proporcionar, por esses anos serem os mais produtivos, ou quando o nosso Ruy Belo fala na arte poética como sendo a de “administrar a tristeza sabiamente”, faço uma lista mental das coisas que fazem sofrer.
Nunca sei muito bem se estou bem tranquila, assim tipo “ceifeira” do Fernando Pessoa, ou se quero saborear aqueles doces momentos de humilhação, inadaptação, frustração, desgosto, angústia, rejeição, absurdo, solidão…
A vida, só por si, aborrece às vezes…
De uma forma ou de outra, a miséria atrai.
Ou atrai para aqueles que, não querendo a sua própria miséria, querem ver, sordidamente, a miséria do outro.
Ou atrai porque queremos partilhar a nossa dor sentida, na dor lida (Autopsicografia – Fernando Pessoa), isto é, ver espelhada a nossa miséria individual no poema de alguém que, julgamos nós, também sofreu (e por isso verteu esse sofrimento no poema). Aqui procuramos comungar com aquele que escreve, queremos ler acerca da nossa dor, acerca de nós próprios.
No entanto, às vezes, a miséria atrai, na medida em que queiramos, pura e simplesmente, sofrer.
Da perspectiva dos que querem o sofrimento (às vezes para serem melhores actores, escritores ou até para se armarem em frente às namoradas), haverá uma maneira de o cultivar, eficazmente?
Se eu desejar permanecer infeliz, serei capaz de semelhante proeza?
Sofrer não é assim tão fácil como parece. O problema é que quando estamos infelizes acabamos por cair na ratoeira da felicidade, pois, ao conhecer o sofrimento, corremos sérios riscos de apreciar melhor aquilo que é bom e que passa, por assim dizer, a contrastar melhor com o mau (Vanilla Sky - the sweet and sour conversation).
Ruy Belo diz que é triste tudo e mais alguma coisa à nossa volta, exortando, em seguida, o miserável poeta a administrar a tristeza sabiamente… Que é como quem diz, "faz alguma coisa de produtivo com o mal que te vai na alma".
Acho que é doce o sofrimento individual e tem vindo a ser subvalorizado! Não é só bom por nos fazer crescer, como dizem alguns, com paternalismo. É mesmo uma forma de subversão contra este enorme concurso de beleza que é o mundo em que vivemos (uma vez mais, a deliciosa conversa tio-sobrinho, em Little Miss Sunshine).
Aqueles que querem sofrer, são acusados de auto comiseração e encorajados a mudar o seu estado de espírito. Como se sofrer fosse mau (andar por aí feliz é que nunca fez ninguém ficar para a posterioridade)!
Por isso, para todos os miseráveis, poetas ou não, desejem ou não o vosso estado de alma, aqui vai o meu solidário Bem Haja!