Idioterne
Em «Os Idiotas» Lars Von Trier usou uma série de expedientes para demonstrar a sua inabilidade enquanto autor, afastando-se o mais possível de um modo coerente, organizado e profissional de filmar a história. Deste modo, os corolários subscritos pelo realizador resultam em saltos constantes no som, devido à impossibilidade de criar uma pista sonora separada, e se as cenas mais escuras têm um enorme acréscimo de grão, devido à proibição de iluminar artificialmente, pelo contrário os artistas movem em vagas de claridade sem precedentes...
Um grupo de jovens partilha um interesse: a idiotice.
Reúnem-se numa grande casa, onde passam o seu tempo livre a explorar os valores da idiotice. E a praticá-los! O projecto é a manifestação de um apetite explosivo pela vida, e confrontam a sociedade com ele.
Destarte, foi subvertida a estrutura de cinema convencional e projectada uma nova epistemologia. Desde então, a euforia dogmática determinou que fossem produzidas algumas peças cinéfilas em que o tema do disparate saudável permaneceu : Os idiotas (Idioterne, 1998) de Lars Von Trier, Mifune (Mifune sidstesang, 1999), de Soren Kragh-jacobsen; e Festa de família (Festen, 1998), de Thomas Vintenberg - três referências cruciais do movimento.
Em Os Idiotas, há a inauguração de Von Trier do movimento Dogma 95. São jovens de classe média que se fingem de idiotas para causarem o desconforto daqueles que os vêem em locais públicos.
Para eles, ser um idiota significaria manter alguma pureza dentro de si.
A ideia é convincente para todos, mas apenas Karen (a única realmente idiota) a leva a sério.
Que lição tirar de tudo isto ? simples : a voluntariedade de emoções quando encarada de forma pacifica e não lesiva de interesses terceiros pode ser aceite, ou como já foi dito por outras bandas, trata-se de uma "saudável loucura".
O filme discute a questão da normalidade social impondo regras de conduta aos indivíduos, aprisionando assim a sua liberdade de expressão.
A principal pedra de toque do filme é de fácil digestão :
1) para se ser um idiota é preciso ter regras. Por isso, ocorre, como no DOGMA 95, a liberdade de expressão, mas inserida em padrões privativos.
2) Apenas Karen, que se juntara ao grupo por acaso, leva estas regras "anormais" até às suas devidas conseqüências, sendo que os demais sucumbem ao peso da consciência: o fardo da tradição, o apego às conveniências da vida burguesa, o medo e a inconsistência de seus próprios objetivos.
O espectador logo se surpreenderá nas primeiras cenas de Os Idiotas , filme dinamarquês dirigido por Lars Von Trier em 1998 - tanto pela estética (quase amadora) como pela proposta inovadora do filme que é referência crucial ao Movimento Cinematográfico Dogma 95.
Nesta provocação é que se insere Os Idiotas - onde o conteúdo não depende da embalagem (da estética), sendo uma obra comovente, criativa e possível de várias análises filosóficas, sociológicas e psicanalíticas, já que foi o próprio Lars Von Trier que definiu o filme como uma "defesa da anormalidade".
Deste modo, apesar de serem guiados pela determinação implacável de provocar a falsa moral da sociedade acabarão por dar inicio a um processo de catarse social complacente da ordem social estabelecida.
O argumento dos "Idiotas" tem precedente no filósofo francês Michel Foucault no que se refere à (a)normalidade e ao desvio social.
O "anormal" foi criado através de discursos, práticas e organizações sociais que, desde o século XIX, sociologicamente, o termo (a)normal , a partir de 1820, com Auguste Conte, adquiriu uma conotação médica e também apreciativa e normatizadora; pois normal vem de Normalis.
Não há o "normal" , o ideal natural, próprio da natureza humana, mas sim uma construção de valores morais e regras de acordo com determinado momento histórico.
O idiota, o anormal é justamente aquele que pelo seu comportamento e modo de vida é considerado perigoso por tentar infringir a ordem social.
No entanto é justamente a diferença que inspira a possibilidades de alteração da ordem estabelecida.
Ser "idiota" permite aliviar a culpa do facto de se ser um normal..
Assim, "Os idiotas" é então um equívoco, uma insídia, um conformismo indireto que se apropria sobre a ordem da normalidade e a da anormalidade.
Von Trier insere no filme uma cena em que os idiotas fazem sexo em grupo (mostrada explicitamente) como uma maneira de subverter a ordem dos sexos e expressarem a loucura e a idiotice reduzindo o indivíduo aos seus desejos mais primitivos. Isso revela o quanto a sexualidade está por trás da loucura; mas uma sexualidade específica, aquela considerada desviante num determinado momento histórico.
O cinema pode desencadear a transcendência quando o artista se transcende e aqui temos dois artistas a transcenderem-se: Lars Von Trier e os idiotas...
Um grupo de jovens partilha um interesse: a idiotice.
Reúnem-se numa grande casa, onde passam o seu tempo livre a explorar os valores da idiotice. E a praticá-los! O projecto é a manifestação de um apetite explosivo pela vida, e confrontam a sociedade com ele.
Destarte, foi subvertida a estrutura de cinema convencional e projectada uma nova epistemologia. Desde então, a euforia dogmática determinou que fossem produzidas algumas peças cinéfilas em que o tema do disparate saudável permaneceu : Os idiotas (Idioterne, 1998) de Lars Von Trier, Mifune (Mifune sidstesang, 1999), de Soren Kragh-jacobsen; e Festa de família (Festen, 1998), de Thomas Vintenberg - três referências cruciais do movimento.
Em Os Idiotas, há a inauguração de Von Trier do movimento Dogma 95. São jovens de classe média que se fingem de idiotas para causarem o desconforto daqueles que os vêem em locais públicos.
Para eles, ser um idiota significaria manter alguma pureza dentro de si.
A ideia é convincente para todos, mas apenas Karen (a única realmente idiota) a leva a sério.
Que lição tirar de tudo isto ? simples : a voluntariedade de emoções quando encarada de forma pacifica e não lesiva de interesses terceiros pode ser aceite, ou como já foi dito por outras bandas, trata-se de uma "saudável loucura".
O filme discute a questão da normalidade social impondo regras de conduta aos indivíduos, aprisionando assim a sua liberdade de expressão.
A principal pedra de toque do filme é de fácil digestão :
1) para se ser um idiota é preciso ter regras. Por isso, ocorre, como no DOGMA 95, a liberdade de expressão, mas inserida em padrões privativos.
2) Apenas Karen, que se juntara ao grupo por acaso, leva estas regras "anormais" até às suas devidas conseqüências, sendo que os demais sucumbem ao peso da consciência: o fardo da tradição, o apego às conveniências da vida burguesa, o medo e a inconsistência de seus próprios objetivos.
O espectador logo se surpreenderá nas primeiras cenas de Os Idiotas , filme dinamarquês dirigido por Lars Von Trier em 1998 - tanto pela estética (quase amadora) como pela proposta inovadora do filme que é referência crucial ao Movimento Cinematográfico Dogma 95.
Nesta provocação é que se insere Os Idiotas - onde o conteúdo não depende da embalagem (da estética), sendo uma obra comovente, criativa e possível de várias análises filosóficas, sociológicas e psicanalíticas, já que foi o próprio Lars Von Trier que definiu o filme como uma "defesa da anormalidade".
Deste modo, apesar de serem guiados pela determinação implacável de provocar a falsa moral da sociedade acabarão por dar inicio a um processo de catarse social complacente da ordem social estabelecida.
O argumento dos "Idiotas" tem precedente no filósofo francês Michel Foucault no que se refere à (a)normalidade e ao desvio social.
O "anormal" foi criado através de discursos, práticas e organizações sociais que, desde o século XIX, sociologicamente, o termo (a)normal , a partir de 1820, com Auguste Conte, adquiriu uma conotação médica e também apreciativa e normatizadora; pois normal vem de Normalis.
Não há o "normal" , o ideal natural, próprio da natureza humana, mas sim uma construção de valores morais e regras de acordo com determinado momento histórico.
O idiota, o anormal é justamente aquele que pelo seu comportamento e modo de vida é considerado perigoso por tentar infringir a ordem social.
No entanto é justamente a diferença que inspira a possibilidades de alteração da ordem estabelecida.
Ser "idiota" permite aliviar a culpa do facto de se ser um normal..
Assim, "Os idiotas" é então um equívoco, uma insídia, um conformismo indireto que se apropria sobre a ordem da normalidade e a da anormalidade.
Von Trier insere no filme uma cena em que os idiotas fazem sexo em grupo (mostrada explicitamente) como uma maneira de subverter a ordem dos sexos e expressarem a loucura e a idiotice reduzindo o indivíduo aos seus desejos mais primitivos. Isso revela o quanto a sexualidade está por trás da loucura; mas uma sexualidade específica, aquela considerada desviante num determinado momento histórico.
O cinema pode desencadear a transcendência quando o artista se transcende e aqui temos dois artistas a transcenderem-se: Lars Von Trier e os idiotas...