terça-feira, novembro 04, 2008

Gomorra


Filme brilhante com reminiscências do neo-realismo italiano e que nos transporta para um universo concreto. Não se trata aqui de fazer esquecer a arte da representação mas elogiar a capacidade transcendente de nos colocar perante a máfia napolitana, como se o espectador que há em cada um de nós se permitisse vivenciar cada momento. Conforme Matteo Garrone já dissera, é preciso comprender e viver a partir de dentro essas problemáticas, de facto, isso foi feito através de planos sequência perfeitos, que transmitem a ideia que a camorra vencerá sempre, porque nasce e vive dentro dos bairros.
Destarte, esta é uma única história feita de tantas outras, recordo que foram escolhidas apenas cinco entre as muitas histórias do livro - a de Totó, que aos 13 anos não consegue esperar mais para se tornar, como os amigos mais velhos, um camorrista, e para conseguir isso está disposto a tudo; a de Marco e Ciro, fascinados por filmes de Brian de Palma a ponto de não perceberem que na vida real as balas matam mesmo; a de Don Ciro, um "submarino", ou seja, uma figura que assegura os pagamentos às famílias dos mafiosos presos mas que se vê envolvido nas guerras de clãs; Pasquale, um costureiro de mãos de ouro que já trabalhava para a mafia italiana e acaba por trabalhar também para a chinesa; Roberto, um jovem recém-licenciado e com escrúpulos que aceita trabalhar para um empresário sem escrúpulos envolvido em negócios de lixo tóxico.
Destacaria apenas uma das sete histórias neste filme feito de Pizza (dividido por pedaços), precisamente a de Marco e Ciro que encenam o tiro ao alvo no descampado. Eles brincam com o fogo sem se aperceberem que esse fogo os matará. Porque se trata de uma composição magistralmente encenada por dois moços (que lembram os rapazes de pasolini), jovens adultos que a sociedade foi incapaz de fazer crescer - «crianças» vítimas do modelo social - incapazes de distinguir bem e mal, deseducados por circunstâncias adversas, mas instintivamente Homens de bom coração.
P.s. Quem não se lembraria de chamar a esta dupla, Di Maria/Katsouranis ?