Isto não é macho, não sei como hei de dizer. Pronto, eu conto. Primeiro, eu não sou propriamente do género bébé chorão. Estamos entendidos ? Era uma tarde como outra qualquer. Vou à cinemateca. Mas vou sozinho. O filme chama-se Elephant man. Subitamente, os meus olhos brilham...e apercebo-me de que o pó da sala Luís de Pina não foi limpo.
O Objectivo não é tecer considerandos sobre John Merrick e a sua doença da neurofibromatosis. Isto porque David Lynch fê-lo quase na perfeição, seja o incidente com o elefante quando a mãe estava grávida de 04 meses, seja a relação controvertida com o mundo social. Por ocasião, alguém me contou que o «homem elefante» português resolveu ir ao Pingo Doce da esquina (perto da zona onde vive, na Baixa Chiado) e, acto contínuo, todos os clientes do supermercado entram em histeria, soltando gritos de pânico. Este foi um episódio real. Destarte, saliente-se, esta é a podridão que leva John Merrick a fugir dos olheiros que o perseguem e fazem troça dele, tentando retirar a sua máscara para observarem os tumores que lhe cercam o rosto. O mise-en-scéne seguinte resume toda a importância da obra. John grita: «LARGUEM-ME,POR FAVOR! EU NÃO SOU ELEFANTE, EU SOU UM SER HUMANO!». John agradece todo o apoio prestado ao médico que o acompanha, designadamente o facto de este lhe apresentar a sua esposa. John chora emocionado porque está diante de uma Mulher bonita que, ao contrário de todas as outras, não foge dele com nojo. Fica a sensação de que o quotidiano está repleto de injustiça. E nós nem entendemos quão cinzenta é a crueldade, sobretudo porque ela é inconsciente. Este Mundo real em que vivemos tem a mesma tonalidade que salta à vista na obra prima: o preto e branco!