segunda-feira, outubro 16, 2006

"Super toys last all summer long" (Brian Aldiss)


Este é o filme que consagra a estética do belo oriunda do mais profundo espaço de sentimento: o do amor entre dois seres: mãe e filho.
A acção decorre no campo eleito pelas máquinas, um futuro distante e incrivelmente obscuro. A mãe é um ser humano distante, o filho, esse é uma máquina construída para amar e capaz de surpreender.
A grande surpresa deste conto de fadas reside na visão que oferece do sentimento porque nos transporta para uma humanidade robótica carente de afectos e do belo sentido do amor.
Sem desprimor para outras obras de ficção cientifica, esta terá sido a melhor dos últimos anos ou não tivesse no seu âmago um elenco de luxo - os próprios Jude Law (Gigolo Joe) e Haley Osmont (David) são espantosos no controlo das não expressões, o argumento é de grande qualidade - um “peso pesado” de referências à metafísica.
Neste particular a presença de uma banda sonora com o contributo da riquíssima orquestra do compositor John Williams.
Artificial Intelligence mais não é do que uma história de fadas na segunda metade do século XXI, a história de recalcamentos psicológicos provocados pelo flagelo mundial do efeito estufa e pelo ballet comportamental das máquinas criadas pelo homem.
A sinopse revela um quadro de acção profundamente estético e demarcado pelo suspense que a todo o momento resvala nas duas horas de filme: ou quando o professor Hobby (William Hurt) decide dar mais um passo no mundo da robótica e cria o robot-criança que exprime o amor, ou quando Mónica (Frances O’ Connor) se interroga sobre a activação do seu filho – duas situações que têm em comum a reflexão do espectador em torno da decisão mais acertada em cada momento.
A chancela de Stanley Kubrick é revelada no tratamento dado ao conto de Brian Aldiss: “Super Toys last all summer long”, Kubrick deixou um legado absolutamente inesquecível e um contributo para a humanização do cinema.
O guião foi realizado pelo seu homólogo Spielberg a quem aquele terá dito:
“you´d be the best guy to direct this movie”.
A tagline trata um confronto entre duas inteligências: a inteligência artificial do comportamento das máquinas e, por outro lado, a inteligência do reino do sentimento acabando esta por prevalecer.
O filme tem esta vertente pedagógica importante para o observador médio.
De acordo com o cada vez maior despojo comercial actual, uma curiosidade interessante é a de que este filme foi distribuído nos EUA pela Warner Bros tendo na Europa havido uma participação da Dreamworks significando mais e melhor qualidade (como é sabido esta última tem vantagens ao nível da elaboração do material que nos chega para ser projectado na tela).
Artificial Intelligence tem muito de Brian Aldiss mas tem igualmente o poder do imaginário sensível de Kubrick, basta lembrar o genérico inicial com a voz do narrador e os planos plongé das ondas do mar, isto é tão somente um piscar de olho à introdução em Shinning (também este filme uma adaptação magistral do livro de Stephen King).
Esta obra prima chegou ao Director capaz de trazer um florescimento do trabalho escrito para que chegasse até nós uma obra humanizada (nesta ponte Spielberg foi mestre).