terça-feira, abril 10, 2007

Persistência da memória


Pintado em 1931, este quadro pequeno (24x35 cm) deixou um rasto de embriaguez latente devido à imensidão da paisagem. Esta síntese é suportada por dois pólos que permitem reflexões filosóficas profundas - a relação directa entre memória flácida e tempo despendurado - onde nem sequer a aurora foi deixada ao acaso. Não se distingue noite e dia. O sol nasce ou põe-se. Nós não sabemos!
Apesar de não ser óbvio, o génio de Dali está ali, é personalizado sob a batuta do desenho - atente-se no bigode desconexo - na cabeça adormecida pelo desejo de que Gala chegue do cinema e veja aquele quadro que demorou 120 minutos a conceber.

O surreal também vale mil palavras, não é só qualquer imagem, é o retrato do inconsciente paranóico, como se dissesse: "tempo para dizer ao tempo que não é tempo que o tempo tem". É aquele magistral uso de cores, onde se captam pequenos pormenores na interpretação livre de associações delirantes. Exemplo: está ali uma tábua azul onde alguém pode saltar para cima do fundo azul dos relógios.
E curiosamente, seria para sempre esta a imagem de marca do artista. A imagem é pessoal. E isso basta.

(à Filipa)

2 Comments:

Blogger Susana Fonseca said...

O génio eterno de Dali...

1:35 da tarde  
Blogger Apolo said...

É engraçado o facto de o tempo não poupar nem sequer o próprio tempo. Ninguém escapa a ele, nem o próprio Dali. Talvez tenha tido este pensamento na sua memória quando pintou este quadro brilhante, absolutamente surreal.
Mergulhamos profundamente no tempo perdido...
De salutar a homenagem feita no final do post.

Abraço sincero,

Paulo

7:30 da tarde  

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