sexta-feira, janeiro 23, 2004

Excerto do (ainda futuro) "ponto de vista da reflexão"
O ponto de vista da reflexão. A busca do ideal aqui, ali e agora. Nem sempre se consegue, nem sempre se tenta. Não se pretenda ser alguém continuamente iluminado ou que ininterruptamente debite sublimes pensamentos. Queiram ter a fineza de deixar de lado a mesquinhez dos meus apontamentos e dos meus esparsos devaneios, pois eles não constituem senão o reverso desprezível daquilo que é a minha pessoa. No meio de disparates há sempre algumas maravilhas. Imaginem-se numa longa viagem de comboio, limitem-se a puxar para baixo o estore do compartimento onde viajam quando algo não vos agradar.
Alguns refugiam-se no espaço silencioso das bibliotecas, eximem-se a pensar no que urge fazer para resolver a triste situação, entregam-se a traduções e comentários infindáveis de pensamentos sem vida. O maior defeito que encontramos nas palavras escritas é precisamente o de elas não terem utilidade. Pois bem, finte-se a inutilidade, busque-se o golo, a melhor táctica é a defensiva e contra-ataque com humildade. Não há um progresso, nem se pretende isso pois não há liberdade para querer o progresso, não obstante tentamos progredir. É a lei do viver é que é fundamental.
Será o saber uma peça importante, sim, será, nem que seja pelo aparato, “o que parece é”, não custa ser mais papista que o próprio papa e passar a ser aquilo que não se é. Alguns ganham, vamos tentar ? tenta-se de tudo, umas vezes triunfa-se outras nem por isso, umas gosta-se outras detesta-se, ama-se tão depressa quanto se despreza e porque serão esses os momentos da vida ? carregamos eternamente com estes antagonismos ?
As contradições dos seres humanos são comuns até nos titulados sábios : “Sei que nada sei” ( Sócrates ) “(...)nada sei daquilo que sou, mas sei aquilo que não sou” (Silésio ), qual deles o mais sábio ? Não os há. Uns sabem muito, outros sabem menos, tudo uma questão de memória ! A natureza é contradição : depressa o sol nasce, brilha, faz calor como depois se põe, escurece e faz frio. Ou não fossem os seres o produto da diferença pai Homem- mãe Mulher, diferença que parece nula, alguém se queixou dela no momento do coito em pleno leito ? nem sequer se nota.
Na sequência do que foi dito, há uma forma de caracterizar o Homem na sua forma de estar, e de evoluir em sociedade que é inerente á sua qualidade de ser humano em constante progressão, não esqueçamos os sonhos, aqueles que nos fazem navegar mar fora, sim porque os sonhos são concretizáveis...vale a pena sonhar. A utilização da palavra sonhador num contexto negativista “não sejas sonhador” é repudiante. “Dos sonhos se constrói a vida” como diria o povo. É preciso a bravura para o manter, por isso é rejeitado, requer coragem, só os guerreiros podem sonhar. O pecado do comodismo acabará por nos roubar a tendência humana para sonhar.