quarta-feira, outubro 22, 2008

cena final - montagem inédita - Charlie é apanhado pelo comboio - (1945)

Em shadow of a doubt (mentiste-me!) não encontramos o suspense a que Hitchcock nos habituou. De facto, todo o filme se centraliza em torno da jovem Charlotte, à medida que ela desvenda o passado do seu tio Charlie, o tal que vai aparecendo como um «bonus pater familias» mas que acaba por ser desmascarado. É um filme mediano que, estranhamente, era o filme preferido de Alfred Hitchcock. Este género clássico tem todas as caracteristicas do film noir que aparece na década de 1940, ou seja, há toda uma associação ao policial cuja personagem principal está embebida de um cinismo desmesurado. O principal propósito nem é o suspense (pouco perceptivel, aliás). O sustento do próprio crime torna-se quase irreconhecível. A morte aparece mas os pormenores mórbidos ficam por decifrar.
Em época de crise financeira, torna-se importante rever clássicos que exprimiam antipatia e hipocrisia, logo atenuada pelo realizador, há ali um instinto de sobrevivência para toda aquele comportamento.
Na época logo se desculpava a atitude hipócrita, era o reflexo da Grande Depressão (1929), dizia-se. Há todo um enquadramento social e cultural que desculpabiliza este comportamento, por exemplo, manifesta-se no expressionismo alemão.
Como o cinema era belo...e se mantem actual!

Premio Dardos


O Ora escriba gostaria de agradecer, em nome pessoal e dos restantes contribuidores, a mui ilustre distinção que esta chafarica recebeu. Aliás, a razão desta nomeação prende-se, como ali se diz, com uma concepção estreita de informação e transmissão de conhecimentos culturais, através de ideias próprias, que, um ou outro tem acerca da imagem que vislumbra na tela. O esplendor da 7ª arte.

«Este prémio traduz os valores que cada bloguista emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, e outros que, em suma, demonstraram a sua criatividade através do pensamento vivo».

No fundo, mais importante que o prémio, é a motivação que ele constitui para se continuar a escrever sobre o que mais se gosta: o cinema.



Um Dardo do Pau Para Toda a Obra


Com o 'Prémio Dardos' reconhecem-se os valores que cada bloguista emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, e outros que, em suma, demonstram a sua criatividade através do pensamento vivo. Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os bloguistas, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web.


Escolhi os seguintes blogues:-



NOS CROMOS DO COSNOS-


BLOGUE DO SOL-


BAIRRO DO ORIENTE-


PALAVROSSAVRVS REX- CORTA-FITAS-


CRÓNICAS DO ROCHEDO-


DOGVILLE-


HEKATE-


MACA(U)quices-


NOCTURNO-


O BACTERIÓFAGO-


OFÍCIO DIÁRIO-


PSICOLARANJA-


AQUI TAILÂNDIA-


DO PORTUGAL PROFUNDO



Muitos Parabéns e obrigado por serem Dardos!

quarta-feira, outubro 08, 2008

último bitaite sobre policiais...



"Holderlin? Não conheço, é policial?"; "Não, é celestial"


(JCM nas «Recordações»)
Acabei o último post a citar um texto com dados conclusivos sobre a pena de morte e mostrei estatísticas nacionais. Destarte, a propósito do relatório minoritário e desta estória dos policiais, lembro-me sempre de algumas ideias soltas sobre o tema. É só porque acho que faz sentido. E já agora, sinto-me orgulhoso do país cobardola onde vivo.

"O que mais notabiliza o assassino português é já estar morto. Ou pelo menos preso. Os nossos homicidas matam-se e entregam-se mal estejam despachados. Os assassinos estrangeiros fazem questão de continuarem vivos. Combinam, premeditadamente, os seus crimes, planejam fugas, arranjam álibis, dão luta aos investigadores. Os nossos, está quieto. Os assassinos estrangeiros voltam ao local do crime: os portugueses nem sequer se dão ao trabalho de abandoná-lo".
(O último pessoal e transmissível do Carlos Vaz Marques ajuda a cimentar este nervo pelo policia(l) português. MEC!)

Há sempre uma altura da vida em que nos apetece controlar alguém. Por exemplo, construir uma máquina que prevê um crime e actua imediatamente antes, capturarando o culpado. Assim, fácil e simples. Um sistema de justiça que se basta com o plano das intenções, condenando a tentativa de ilícito. Foi isto que Spielberg realizou.
Qual o fim das penas? Prevenção geral, isto é alertar a sociedade para o crime, causando temor nas pessoas ? Prevenção especial, isto é, assustar e evitar a reincidência do criminoso? ou Retribuição, isto é, castigar o criminoso e atribuir às vitímas uma compensação?
Numa altura em que tanto se fala da crise financeira, é bom não esquecer a crise do cinema e da justiça. Por isso, aqui fica um relato sobre a aplicação da Pena de morte neste Mundo (ainda vivemos num planeta humano?) :

(...)

A abolição da pena de morte deve constituir o resultado da inteligência do homem, designadamente daqueles que detém o poder. Efectivamente, a abordagem desta questão não se deve basear no espírito de misericórdia ou clemência por parte duma parte da nossa sociedade pensante e dominante. Nem tão pouco na consideração de que a existência desta pena se resume a um mero sentimento de vingança ou retaliação presente, desde a Antiguidade, nos diversos grupos sociais.A vida e a morte são realidades de cada momento presente, passado e futuro. A natureza social e o espírito de sobrevivência do Homem fá-lo acreditar que um conhecimento mais aprofundado da realidade pode contribuir para a conformar com os seus desejos de organização, nela se enquadrando, como elemento ou factor de estabilidade dessa realidade desejada a aplicação da pena de morte. A esta circunstância acresce também a consciência de que tudo é efémero perante leis imutáveis da natureza, o que conduz à crença ou convicção, por parte de alguns dos pensadores e detentores de pequenos poderes, de que é natural que possuam alguma vantagem sobre os demais, sobre aqueles que não detêm o privilégio da liderança ou do conhecimento.

(...)

No caminho da Humanidade, felizmente e malgrado alguns passos atrás que por vezes ocorrem, a tendência é no sentido de se caminhar pela abolição da pena de morte…Vejamos no que concerne a esta questão, e segundo dados fornecidos pela Amnistia Internacional, quais os factos e números existente à data de 1 de Janeiro de 2007,sendo certo que são informações oficiosas, podendo o respectivo número ser bastante mais elevado. Assim:
128 países aboliram a pena de morte, na lei e na prática; 88 países e territórios para todos os crimes; 11 países para todos os crimes excepto crimes cometidos em tempo de guerra; 29 países mantém a pena de morte na lei mas não procedem a execuções nos últimos 10 anos.
69 países mantém e usam a pena de morte;
Pelo menos 1591 pessoas foram legalmente executadas em 25 países em 2006; pelo menos 3861 foram condenadas à pena de morte em 55 países.
91% das execuções ocorridas em 2006 foram levadas a cabo por 6 países: China (entre 7500 e 8000), Irão (177), Paquistão (82), Sudão (65), Iraque (177) e em 12 Estados dos EUA 53 execuções.
O Kuwait teve em 2006, o mais elevado número de execuções per capita, seguido do Irão.
De acordo com informações prestadas por grupos de defesa dos direitos humanos estima-se que cerca de 25 000 pessoas foram condenadas à pena capital aguardando a sua execução.
A hipocrisia, cobardia, injustiça e estupidez do direito que consubstancia a existência da pena de morte revela-se ainda na circunstância de a mesma, como já se referiu, tender a ser aplicada, na quase generalidade dos casos, aos membros mais vulneráveis das sociedades: pobres, doentes mentais, vencidos de guerra, minorias raciais, étnicas e religiosas, os quais, raramente, possuem meios de obtenção duma qualificada representação legal que lhes assegure uma defesa e um julgamento justo, se é que alguma vez se pode considerar como justo um julgamento que admite a possibilidade de aplicação da pena de morte. Erros judiciais por falta de representação ou defesa adequada são, infelizmente, frequentes o que só torna mais tenebroso e inqualificável a ausência de abolição da pena de morte.
Portugal foi dos primeiros países europeus a abolir a pena de morte (1867) precedido apenas da República Romana (1849) e por S. Marino (1852). Essa abolição foi faseada no tempo e no respectivo âmbito:
· Em 1852 apenas para crimes políticos (artigo 16.º do Acto Adicional à Carta Constitucional de 5 de Julho, sancionado por D. Maria II).
· Em 1867, no reinado de D. Luis, para crimes civis, permanecendo para crimes militares.
· Em 1911, abolição para todos os crimes, incluindo os militares, sendo todavia readmitida a pena de morte, para crimes de traição em tempo de guerra, em 1916.
· Em 1976, abolição total, sendo considerada um acto proibido e ilegal por força do artigo 24.ºda CRP.A última execução conhecida terá ocorrido em 1772, e foi aplicada a uma mulher de nome Luísa Jesus.


(excertos de um legado escrito, da autoria do meu pai, Jorge M. Barra)